minha
solidão que volve os braços como um náufrago.
Faço
rubros sinais sobre teus olhos ardentes
que
ondulam como o mar à margem de um farol.
Guardas
apenas trevas, fêmea fugidia e minha.
De
teu olhar emerge às vezes o litoral do espanto.
Inclinado
nas tardes deito minha triste rede
nesse
mar que sacode teus olhos oceânicos.
Os
pássaros noturnos bicam as primeiras estrelas
que
cintilam como meu ser quando te amo.
Galopo
a noite em sua égua sombria
espalhando
espigas azuis sobre o campo.
Poema 7
Inclinado en las
tardes tiro mis tristes redes
a tus ojos oceánicos.
Allí se estira y arde
en la más alta hoguera
mi soledad que da
vueltas los brazos como un náufrago.
Hago rojas señales
sobre tus ojos ausentes
que olean como el mar
a la orilla de un faro.
Solo guardas
tinieblas, hembra distante y mía,
de tu mirada emerge a
veces la costa del espanto.
Inclinado en las
tardes echo mis tristes redes
a ese mar que sacude
tus ojos oceánicos.
Los pájaros nocturnos
picotean las primeras estrellas
que centellean como
mi alma cuando te amo.
Galopa la noche en su
yegua sombría
desparramando espigas
azules sobre el campo.
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POEMA 1
Corpo
de mulher, alvas colinas, coxas alvas,
Te
pareces ao mundo em teu ato de entrega.
Meu
corpo de selvagem lavrador te escava
E
faz fluir o filho do fundo da terra.
Fui
só como um túnel. De mim fugiam pássaros
E
em mim a noite entranhava sua invasão violenta.
Para
sobreviver forjei-te qual uma arma,
Uma
flecha em meu arco, uma pedra em minha funda.
Tomba
porém a hora da vingança, e te amo.
Corpo
de pele, de musgo, de leite ávido e firme.
Ah
os vasos do peito! Os olhos da ausência!
Ah
as rosas do púbis! Tua voz lenta e triste!
Corpo
de mulher minha, persistirei em tua graça.
Minha
sede, ânsia sem limite, caminho indeciso!
Sulcos
obscuros onde a sede eterna segue,
Onde
a fadiga segue, e a dor infinita.
Poema 1
Cuerpo de mujer,
blancas colinas, muslos blancos,
te pareces al mundo
en tu actitud de entrega.
Mi cuerpo de labriego
salvaje te socava
y hace saltar el hijo
del fondo de la tierra.
Fui solo como un
túnel. De mí huían los pájaros
y en mí la noche
entraba su invasión poderosa.
Para sobrevivirme te
forjé como un arma,
como una flecha en mi
arco, como una piedra en mi honda.
Pero cae la hora de
la venganza, y te amo.
Cuerpo de piel, de
musgo, de leche ávida y firme.
Ah los vasos del
pecho! Ah los ojos de ausencia!
Ah las rosas del
pubis! Ah tu voz lenta y triste!
Cuerpo de mujer mía,
persistirá en tu gracia.
Mi sed, mi ansia sin
limite, mi camino indeciso!
Oscuros cauces donde
la sed eterna sigue,
y la fatiga sigue, y
el dolor infinito.
Pablo Neruda(1904-1973) foi poeta,
embaixador e militante comunista. Em 1971 foi laureado com o prêmio Nobel de
Literatura. De sua vasta produção poética, podemos destacar Canto Geral, Cem sonetos de amor, As uvas
e o vento e Vinte poemas de amor e
uma canção desesperada. Os poemas ora traduzidos são desta última obra.
Franz A. Silva nasceu no Piauí. Em
Brasília fez Publicidade e Filosofia. Mora atualmente em Buenos Aires, onde
ministra aulas de Português e faz traduções. Prepara seu primeiro livro de
poemas, a sair em edição bilíngüe.
[revista dEsEnrEdoS - ISSN 2175-3903 - ano III - número
8 - teresina - piauí - janeiro fevereiro março de 2011]