poesia
3 poemas de
Alexandre Bacelar
Marques
JOSÉ
ao J. W.
Nem o
deus das adoráveis miudezas
Livres,
tão suavemente preparadas
Por
alguém que não conheces, por alguém
Que
afinal não vos amou e não amará.
Nem o
diabo elementar da regulagem
Do
inseto pelo réptil que o deseja
pois
não negarás que do sexo a alegria
é um
grave ovo de ferro, aleatório.
Você não
quer uma nova ordem no mundo
José,
não quer descanso, não quer fugir.
Você
considera o tempo quando olhar
os
pequenos desta terra era gratuito
e
trabalhoso. José, você amofina
De
pensar que Deus é só mais um clichê.
A TERRA E A TÉCNICA
1.
desculpas e justificações.
Sei
muito bem do meu pecado
de
viajante que não sabe
incomodar-se
na estação.
Porém
vocês são sempre sérios.
Não vou
dizer que a iniquidade
não me
dá náusea antes da janta;
Digo
também que sou humano
e que
meus marcos são fluídos.
2.
estamos todos condenados, mas não há virtude que não traga em si um vício e que
não deixa de ser virtude por causa disso.
A
angústia, meus irmãos, não raro,
nos
desafina o violino
antes
do fim da melhor música
nossos
jurados se entreolham.
Ouvimos
todos o miado
de gata
da indisposição.
Mas
cada um tem sua defesa
cada
defesa sua armadilha.
Descrer
dos homens como método,
não é
ter fé, é só cinismo.
Ok.
Aceito e me desculpo
por não
ser nunca circunspecto.
4.
desonra é o começo da minha alegria, não minha desgraça.
Porém
resolvo meus problemas
Com
equilíbrio e fatalismo.
Este
talento não ganhei
de
herança mas de recompensa
de
humilhações, então cuidado.
Aceito
reconsiderar
o que
não aceito é que não saibam
que humilhação não se corrige
senão
com mais humilhação
com
mais desgaste, mais amor
entre
esfaimados mal dispostos
a
preterir a própria fome.
5. o
espírito da técnica
Razão,
sozinha, não convence
quem
dos prazeres da razão
não
prova nada, nada, exceto
o
empate; o desvanecimento
dos
dias percorridos limpos
e
felizes com poucos prêmios;
fora o
conforto de saber
que
dias não são nem bons nem maus,
só um
buraco a mais no tempo
(e,
mesmo assim, são muitas sondas)
Não
merecemos nossa cota
de
sofrimento compreensível
por
quem forte seja, adulto, homem.
As
dores dos sensíveis, estas
possivelmente
merecemos.
(As
frescuras dos delicados
são o
penhor da parte humana
de
nossa herança que é divina.)
O que
podemos esperar
é que
nos julguem por fazer
objetos
úteis com a dor:
colheres;
cálamos e arcos
de
violinos. Como usá-los
do modo
certo não depende
de nós,
porém é lei da graça
(a qual
às vezes abandona
a nós
seus filhos, como a terra
esquece
o inseto em seu buraco.)
RESTAURAÇÃO DE EROS PELA NECROFILIA
Não é
que eu desaprove tuas ternuras
no
amor. (as que, aliás, em nossa cama
faz
meses não figuram)
Mas
hoje é outro meu convite: é ver-te,
caída
como folha de palmeira
no chão
de areia quente
à
margem de uma picada abandonada.
Torta,
ajambrada e nua como corpo
desovado
entre as cigarras.
Que eu
venha recolher-te na carroça
sozinho
ajeitarei teu longilíneo
perfil
de fêmea e folhas
Como os
matutos solitários botam
compridas
folhas secas de palmeira
atrás
de suas carroças
abraçando-se
à palha e colocando-a.
E
seguem com as folhas apagando
as
trilhas trás deles
Te
arrastarei de costas, pelas pernas,
depois
abraçarei tua anca suja
e
desmaiada e bela.
Em casa
já, com calma gozarei
teu
corpo sujo e tua passividade
enojado
como um rei
bastardo
goza o mando, pois moleza
é
obstáculo ao prazer dos orgulhosos.
Tua
pele, eu quero seca.
Tua
boca, quero aberta mas sem hálito.
Este
será o sabor de nosso sexo.
Sabor
de um cano áspero.
Prazer
purificado no trabalho
de ter
prazer. Beijar sem ter resposta.
Tocar
sem ser tocado.
Que eu
tenha do teu corpo só a fadiga
do
homem que de palha tece o teto
de um
casebre de taipa.
Desalmação
será nosso disfarce
de gozo
que se guarda na dureza
das
leis da utilidade.
Mais
bela é a pureza que se guarda
de seu
merecimento de prazer.
Prazer
é nossa graça.
Alexandre Bacelar
Marques
nasceu em Teresina (PI). Fez mestrado em Ciência Política pelo IUPERJ e é
doutorando pela mesma instituição.
[revista
dEsEnrEdoS
- ISSN 2175-3903 - ano III - número 8 - teresina - piauí - janeiro fevereiro
março de 2011]
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