as gaivotas são pedaços de lenço sujo,
roberta ferraz
e o
marulho fende a memória
na concha
das mãos
estátuas
de sal
no
suor friíssimo:
escamas de peixe
medeias em fuga
cabelos vivos
no
côncavo dos séculos
(a música)
de águas-medusa
guelras
ou ábaco líquido
(a mística do cálculo)
em ondas, em orlas
linhas
tortas inúteis
onde o livro-transparência
arde
até
os rins.
alto-mar
e
olho a cidade com lenços negros arrancados das casas, roberta
ferraz
nos orifícios onde a maquete se torna susto
a fuga árida dos filhos,o ímpeto das flores
nascidas nas dobras dos planos, na órbita dos corpos crus
a mágoa pura, violenta, calcinada – rosas roxas, de
hematoma
e água fria.
o berro tomba
nos murros contra as nádegas.
e os inocentes
pedem calma.
eles querem o teu bem.te querem
calma.
com um sorriso pregado na casa.a língua afiada. e um
ótimo
senso de humor.há
háhá.e os defuntos não fedem
nas bordas do dia.
urubus
limpam a cena – nem ossos. nem tripas.
e as
mães
contam
as lágrimas de deus
num
rosário.
infanticídio
...volta
acima dos lenços de enforcar, roberta ferraz
tímpanos borrados.
mudez das crianças
sem nome.
ali
sob os panos
contrário do anúncio.
dívida
é
claro que as bijuterias
custam
mais caro do que as joias
ouroboros
num brinco é de graça
ártemis
num bracelete
e as parcas
já pagou a língua?
Maiara Gouveia (Brasil, São Paulo: 1983). Escritora, publicou artigos, ensaios e poemas em alguns países da América Latina e também em Portugal e nos Estados Unidos. Participou de inúmeros eventos literários, oficinas, e integrou a organização da FLAP – Festival Literário Internacional. Em 2006, foi finalista do Prêmio Nascente com o livro de poemas O Silêncio Encantado. A obra inaugural sofreu alterações e hoje se chama Pleno Deserto (Nephelibata: 2009). Dos livros à espera de publicação, menciona Antes que se rompa o fio de prata, disponível para download. twitter: @maiaragouveia
[revista dEsEnrEdoS - ISSN 2175-3903 - ano III - número
10 - teresina - piauí - julho agosto setembro de 2011]